Eu nunca pensei em ser escritor, mas sempre gostei de escrever. Gostar e saber são coisas diferentes — logo, procurei aprender. Entre leituras, inspirações e muita prática, fui deixando de ser muito ruim para me tornar apenas “não tão ruim assim”.
Mas a síndrome do impostor sempre me acompanhou: nada nunca parecia bom o suficiente. Achava meus textos rasos, mesmo quando os colegas elogiavam.
— Estão apenas me agradando — eu murmurava, com orgulho disfarçado.
Os primeiros ecos da escrita
No ensino médio, lembro bem de um conto improvisado. A professora Lu, a quem guardo carinho especial, distribuiu cenas aleatórias e pediu que criássemos uma narração em terceira pessoa. O meu texto ganhou os holofotes e até me rendeu uma indicação para o grupo de teatro da escola. Recusei, assim como recusei por anos a ideia de que sabia escrever.
Na contramão da tia Lu, o professor Ayrton dizia que eu exagerava nos sentimentos. Eu não me importava: se tenho um talento, é justamente colocar emoção nas palavras.
Ainda assim, segui longe da literatura. Fui Técnico em Agropecuária, bacharel em Engenharia de Pesca e me especializei como Oficial de Náutica da Marinha Mercante — profissão que desempenho até hoje. Mesmo assim, sempre amei letras e números na mesma proporção.
Em 2002, entediado e ávido por aprender, comecei uma graduação em Gestão Financeira. Foi nesse período que surgiu o Quarto Concurso Amazônia Azul de Redação.
— Opa, é um sinal — pensei.
Nas madrugadas monótonas do Atlântico, comecei a rascunhar. À primeira vista, achei o texto fraco, mas insisti, revisei e enviei. Para minha surpresa, a banca da Cesgranrio decidiu que ele era bom o bastante para o primeiro lugar.
O verdadeiro prêmio
Ganhei um cheque de 5.000 reais e uma cerimônia de premiação no Rio de Janeiro. Se eu esperava isso? Jamais. Queria apenas estar entre os dez primeiros. Mas ali estava eu: sendo pago para escrever.
Ainda hoje olho o texto e o considero raso. Um amigo chegou a dizer que não via nada demais. Mas se uma banca de especialistas julgou que valia ouro, escolhi aceitar.
”O dinheiro foi ótimo, mas não foi o essencial. O verdadeiro prêmio foi descobrir que minhas palavras têm alcance e não são tão frágeis quanto eu acreditava.”

Escrevendo a própria jornada
A rejeição me foi tão comum quanto o “eu te amo” de uma mãe para um filho. Por quase três décadas, duvidei de mim. Não era uma dúvida leve, mas aquela que sufoca e paralisa. Os olhares, os julgamentos, a tendência de querer ser o que os outros esperavam me travaram na primeira página de tantas histórias que poderiam ter existido.
Hoje sei dizer não. Sei que ser quem sou é tão bonito quanto qualquer padrão, desde que eu conduza a minha própria jornada. Inspirações, só das pessoas que me querem bem. E assim sigo: empregando sentimentos e transformando vivências em palavras.
